segunda-feira, 23 de julho de 2012

Dias no Quarto e Anjos

O Segundo dia no quarto foi bom pela manhã. Meu médico me visitou, disse que ia pedir para tirar a sonda urinária e isso já me animou, afinal, eu teria de levantar para ir ao banheiro e ansiava por saber como seria levantar. Uma enfermeira linda e meiga chamada Isabel me tratava super bem, foi ela que retirou minha sonda, me dava as medicações e sempre olhava meu curativo. Ainda no período da manhã, chegou uma fisioterapeuta e disse: Vamos sentar? puxa vida, que categoria! ela me colocou sentada e depois em pé. Foi estranho e de cara percebi que eu estava mais alta! estava vendo o mundo "de cima" haushauhsa dei os primeiros passinhos no quarto e deitei novamente.
Logo depois um ANJO apareceu para me ajudar a tomar banho. Cibely. A melhor enfermeira daquele lugar. Me tratava como se eu fosse irmã dela. O banho que eu tomei sentada naquela cadeira de banho foi o o melhor de toda a minha vida. Eu olhava a minha barriga toda inchada, pernas bambas e sorria. Gargalhava igual uma louca quando a água caia quentinha nas minhas costas. Eu dizia: "É muuitoo booomm" e a Cibely me deixava ficar um tempinho com a ducha nas costas.

O horário da visita era o mais aguardado, como sempre. Minha irmã mais velha foi me ver, juntamente com minha outra irmã que não saiu do meu lado, meu pai e claro, meu noivo, que foi todos os dias também. Pena que o tempo passava rápido. A TV ficava sempre ligada e eu não tinha vontade nem de assistir nem de trocar de canal. A noite chegou e com ela a pior sensação que tive no hospital. Por algum motivo, eu não conseguia me mecher, dependia das enfermeiras para fazer qualquer movimento na cama. Não sentia dor propriamente dita, mas não conseguia fazer nada. Mais tarde percebi que era o adesivo do curativo que repuxava minha pele das costas e como eu não a sentia mas ela estava voltando a sensibilidade isso causava um mal-estar descomunal. Eu ainda estava ligada à morfina, me levaram um soro e eu ficava contando as gotinhas. O meu tédio era tanto que por horas a fio eu contei e quando cheguei no número 600 cansei. Lá pela 1 da manhã eu não aguentava mais a posição, o soro, a morfina, nada. Sentia o gosto da medicação na garganta, queria virar de lado, não conseguia, o adesivo puxando, entrei em desespero. Uma enfermeira me ajudou a deitar de lado, mas não colocou nenhum apoio em minhas costas e eu fiquei lá tremendo de cansaço de ficar naquela posição, apertando a campainha e ninguém aparecia. Foi aí, no ápice da sensação de desespero comecei a gemer (e alto) de dor. Mas não era bem dor, era a junção de toda aquela terrível sensação. A enfermeira demorou uns 20 minutos para aparecer, o suficiente para eu estar soluçando de raiva e desconforto. Ela ligou o oxigênio e colocou aquelas mangueirinhas transparentes em meu nariz. Eu falei que não queria aquilo em mim e ela disse que era preciso para que eu me acalmasse. O ar que entrava em meu nariz tinha ainda mais cheiro de remédio e assim que ela saiu arranquei aquilo de mim. Logo na sequencia fiquei com medo de dormir sem aquilo e coloquei de volta. Não sei para que, afinal, aquele noite, não dormi nem 1 segundo.

Eu contava os segundos para mudar o plantão pois as 6 da manhã a Cibely chegaria. Quando ela chegou ja foi tirando o oxigênio de mim, me acalmando e me deu banho mais cedo para eu relaxar. E foi o que aconteceu. Depois do banho consegui dormir uma horinha.
Mais tarde, fui passear no shopping (andar no corredor do hospital) e foi muito bom olhar pela janela, ver o transito nosso de cada dia da minha cidade. Para impressionar minha família e eles verem o quanto eu queria ir para casa logo, os aguardei no horário de visita sentada na cadeira e não na cama como de costume. Todos estavam felizes de ver que eu já me movimentava melhor e que eu conseguia ficar um tempo sentada.

No terceiro dia acordei muito indisposta. Uma coisa que estava me incomodando muito era o inchaço da minha barriga e eu ainda não tinha conseguido ir ao banheiro fazer o serviço completo, ou seja, os enfermeiros ficavam me cobrando e nada acontecia. O adesivo também estava me matando e eu achava que ele estava impedindo que eu fosse feliz! (ah sim, eu sou extremista, mas não é exagero). Aquele dia disse à fisioterapeuta que não me sentia bem para ir ao Shopping e aguardei bem quietinha minha família ir me ver. Como no dia anterior eu os aguardei sentada na cadeira, acho que todos ficaram surpresos em ver que eu estava indisposta. A essa altura, minha barriga parecia de gestante e eu não podia tomar Lufital devido a alergia. Eu estava tomando Tamarini e nada acontecia. A enfermeira chefe pediu um suco laxativo e meu médico disse que se nada adiantasse iriam fazer uma lavagem pois eu estava muito inchada. Eu já estava sem medicações na veia, sem morfina, apenas tomando Tilex de 6 em 6 hrs. Decidi que ninguém ia fazer lavagem nenhuma em mim e eu pensava o tempo todo em como eu queria ir ao banheiro. Mas, eu estava com a barriga tão inchada que não conseguia respirar fundo. Tudo doía, e eu não conseguia eliminar gases. Quando meu pai e meu noivo foram embora, chamei a enfermeira e falei pra ela fazer o que tivesse que ser feito, contanto que minha barriga desinchasse.

Aquele foi um dos piores momentos. Lavagem, fralda, tudo o que uma pessoa idependente como eu achava que nunca ia passar na vida aconteceu. Mas, virei uma bomba relógio de tantos gases sendo eliminados, minha barriga começou a desinchar e eu tinha certeza que naquela noite eu conseguiria ao menos voltar a respirar fundo novamente.

Mais uma noite insone e já que não tinha soro para contar as gotinhas resolvi contas as lajotas de gesso do teto do quarto. Contava, somava-as na diagonal, tentava adivinar o número de quartos no corredor e multiplicar esses números de lajotas. Tudo em prol de ver a noite passar mais rápido.

Na manhã do quarto dia eu era outra pessoa. Barriga "sarada", banho maravilhoso que a Cibely me dava, lavando meus cabelos melhor que eu mesma. Eu ansiava pela visita do meu médico para que eu pudesse implorar à ele para tirarem aquele curativo de mim. Ele continuava tirando meu sono, meus movimentos na cama e incomodando horrores. Eu tinha um plano. Para provar que estava bem esperei a fisioterapeuta vir e com a maior empolgação fui passear no shopping. Mais tarde, um outro fisioterapeuta, que pegava pesado (segundo ele alguém tinha que fazer o serviço sujo) fez vários exercícios comigo e eu ali, firme e forte. Voltei ao quarto e a cama estava feita. Decidi esperar meu médico na cadeira (tudo para que ele pudesse constatar que eu já estava bem) mas ele demorou e na hora da visita, ele chegou. Minha irmã, sobrinha e meu pai estavam lá comigo e o meu médico disse que ia pedir para tirar o dreno, o catéter do pescoço e se tudo corresse bem em 24 horas eu teria alta. Eu falei com ele sobre o adesivo e ele disse que ia pedir para fazer um menor e sem o tal adesivo a prova d'água. UFA! finalmente! Ele mal tinha saído do quarto e comecei a chorar de alívio e felicidade. No dia seguinte, EU IRIA PARA CASA!

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